sexta-feira, 21 de junho de 2013


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sábado, 8 de junho de 2013

Chuva de Canivetes Naquela manhã havia mais uma vez acordado com o costumeiro amargo de fel na boca. Os olhos remelentos se dirigiram para a janela, e perceberam que o sol mais uma vez não havia estava na abóbada celestial - que amanhecia encoberta pelas cinzas nuvens-pinceladas de Poe tangiam a linha secante do horizonte. - O sol mais uma vez atrasou para o dia. Gosta de me irritar. Sentou-se na cama,reflexivo, com o olhar no horizante. Pôs um dos dedos numa das narinas. O dedo saiu com uma grande e úmida meleca. Era o fim, foi o que lhe restou: uma meleca para distraí-lo. O cabelo a vida e o desalinho -estava desempregado - e sem um amor. Os amigos sumiram. Os dias na cobertura numa das áreas mais nobres da cidade não mais faziam parte de sua vida. O apartamento com piscina,sauna,salão de jogos,de som e um cineminha. Era do seu sobrinho, ali fazia de abatedouro para as novinhas. Não tinha mais o tesão em adentrar naquele imóvel sem um tostão no bolso, usando um tênnis encardido, calça rota e camisa desbotada, cansada de varal, acompanhado por uma gata linda,bem vestida e gostosa e bem safada - uma interesseira. “ Que dentre todas, escolherei áquela que tiver os lábios mais sequiosos, e que saiba beijar como Judas beijou.” Recitava assim,na cama, nu e ereto para elas. E a beijava no rosto, enquanto as disvirginava numa penetração lenta,bem estudada. No geral, elas faziam cara de dor, e tentavam conter as investidas de seu tronco com as mãos. Com paciência, vencia a resistência e a penetração se tornava profundo - onde dor e prazer se mesclavam. Então, reclames de dor se transformavam em gemidos e de sons indecifráveis de prazer - a emoção de ter um homem na cama pela primeira vez na tão sonhada penetração vaginal, tão explorada em fantasias em intermináveis momentos de masturbação juvenil. A meleca foi deixada grudada no lastro da cama. Foi ao banheiro-estava de pau duro. Masturbou-se, ali diante do vaso, enquanto se recordava dos cabaços tirados na cobertura do sobrinho. Do nada surgiu nas suas lembrança as musas Merelyin, Marlene Dietrich-os rostos. Sônia Braga as pernas e a bunda, e de Madonna, a safadeza total e absoluta. Regina Casé com 18 anos, os seios.Esporrou no chão do banheiro,teve que escorar-se com uma das mãos nos azulejos, de fraqueza. banhou-se,trocou-se e foi para a rua buscar um ar mais puro do que o monóxido de carbono do ar de sua graça. La embaixo, ao observar a longa avendia, disse, com os seus botões: “ a cidade está sempre muito poluída, de gente.” nas ruas tomava um segundo banho de olhares estranhos,ferinos. Nas portas das fábricas: “Não Há Vagas” - escrito em vermelho, letras garrafais. Voltou para casa, desanimado,abatido. sentou-se numa poltrona e pensou:” não nasci para ser operário-é isso. O universo tem coisa melhor para mim.” Olhando pela janela viu a chuva de canivetes que se desenhava no céu. Um gato rosnava, não se sabe de onde, talvez, esteja morto. Foi atingido. Morcegos azuis entraram pela janela, pairando sobre sua cabeça. Tomou mais uma cerveja ,no gargalo. Pairou a cabeça no travesseiro, enquanto o seu corpo estava nu, no banheiro urinando cerveja fedorenta. Pensou: “ amanhã será um novo velho dia, certamente, acordaria.não estarei morto. O costumeiro mau humor. O eterno fel na boca e na alma. Olhos remelentos, vermelhos denunciando a ausência do sol. Um astro pirracento,chato - que ousava não brilhar, ao amanhecer.” Com o dedo, talvez procurasse mais uma vez alento. Mas, nem mais meleca haveria para confortá-lo. Nada mais restaria naquele suntuoso apartamento na Graça - que era a sua desgraça. Solitario no conforto, no luxo. “ Não vou chorar - sou forte. O tempo não muda nem a minha vida. Mas, não derramarei lágrimas.” Não acreditou no delírio,contudo os canivetes choviam aos cântaros, tilintavam na vidraça da janela e formavam grandes poças no asfalto. O trânsito estava um caos.” Como todos naquela cidade suportariam tal chuva? “Indagava-se. “ Talvez, papai e mamãe que sempre adoraram tomar banho de chuva estejam mortos.”